quarta-feira, 29 de maio de 2013

Estórias de Sara

Estava num voo noturno de São Paulo pra casa, numa daquelas madrugadas que você sabe que não vai dormir.
Já estava irritada por não ter conseguido uma poltrona do lado esquerdo, ao lado do corredor. Comprei a passagem de última hora porque meu querido chefe pediu para que eu estivesse no outro dia às 09:00 no escritório, assim só consegui a poltrona do lado da janela.
Imagine você apertada contra a janela fria, com vontade de fazer xixi as 03:00 da matina e tendo    que acordar o coleguinha do lado para poder ir ao banheiro.
É, eu não cheguei com o pé direito quando entrei no avião. Mas, pelo menos, fui uma das primeiras pessoas a chegar, coloquei minha mala de mão primeiro e me acomodei sem maiores problemas. Respirei fundo e pedi a aeromoça uma taça de vinho.
- Senhora, só depois de decolarmos.
Pensei: "Senhora?! Espero não ter um ataque fulminante antes de virar senhora!"
No meio de um plano imaginário de assassinato, um príncipe encantado passa pelo corredor. Meus olhos foram com ele. Sabe como é, muito trabalho e pouco tempo pra sair.
Foi quando ele parou no meio do corredor e começou a conversar com a aeromoça. Quando os dois olharam pra mim, e a aeromoça apontou o dedo em direção a minha poltrona.
Vi ele voltando o corredor em câmera lenta, tinha cabelos escuros e uma boca linda. Segurava um livro que eu conhecia bem a capa, era 'O Morro dos Ventos Uivantes'. Surpresa agradável.
Sentou-se na poltrona e me disse "Oi' sorrindo e exalando um perfume dos anjos. Foi amor à primeira vista.
Assim, o avião começou a decolar. Confesso que ainda sinto borboletas no estômago, mesmo viajando quase todo mês. Imaginei-me segurando a mão dele, passando pelo medo juntos, quando uma pergunta me trouxe à realidade:
- Têm medo de avião?
Ele me perguntou abrindo a conversa mais clichê do mundo, mas também a que poderia vir a ser o começo da história que iríamos contar no nosso casamento.
Respondi que sim, tentando esconder a timidez. Assim começamos a conversar do que fazíamos, pra onde íamos, quem somos e quem queremos ser.
- Então, primeira vez que lê 'O Morro dos Ventos Uivantes'? Perguntei à ele.
Entre risos me respondeu:
-Na verdade, não. Deve ser a quinta vez que leio. Gosto de romances e esse é com certeza um dos mais bonitos que já li.
"Que homem! Meu Heathcliff!" Pensei toda abobalhada e logo pousei meu olhar na sua mão esquerda. Sem aliança, para a minha alegria.
Conversa vai, conversa vem. Ele não citou nome de mulher em todas suas histórias, aparentemente, também sem namorada. E uma vez ou outra, citava o 'Fabinho', devia ser amigo de infância, pois pareciam fazer tudo juntos. Achei bacana, mesmo porquê eu também tinha uma melhor amiga, a Tina.
Contei sobre uma viagem que fizemos juntas para a Inglaterra. E de quando fingíamos ser espanholas que não sabiam falar nada de inglês, para assim despistarmos paqueras de caras estranhos.
Rimos alto. Nós estávamos realmente nos divertindo, meu humor tinha melhorado consideravelmente. Já nos imaginava saindo juntos e apresentando nossos melhores amigos. Quem sabe um casamento duplo? Ria internamente.
Foi quando sem perceber, pousamos no nosso destino. Olhamos um para o outro como se disséssemos "Mas já?!".
Levantamos e começamos a reunir nossos pertences para ir embora, quando ele disse:
- Sara, me dá seu número?
Estava ansiosa por esse pedido. Abri primeiro o sorriso e depois a boca pra falar, quando seu celular tocou.
- Oiii Fabinho, tudo bem sim. Então amor, acabei de chegar. Conheci uma amiga, a Sara, ela é ma-ra-vi-lho-sa. Você vai adorar ela!